Onde se hospedava o Papa Francisco: hotéis e residências que acolheram o líder religioso no Brasil e no mundo
A morte do Papa Francisco, nesta segunda-feira (21), na Casa Santa Marta, dentro do Vaticano, encerra não apenas uma era na Igreja Católica, mas também a história de um hóspede singular. Eleito em 2013, Jorge Mario Bergoglio fez uma das escolhas mais emblemáticas de seu pontificado já nos primeiros dias: rejeitou a pompa do Palácio Apostólico e optou por viver em uma casa de hóspedes — a Casa Santa Marta.
Mais do que uma decisão simbólica, essa escolha foi uma redefinição silenciosa do que significa “residir com dignidade”, mesmo para um chefe de Estado e líder espiritual global. Francisco transformou um edifício funcional em lar e, com isso, escreveu um novo capítulo na história da hospitalidade de alto padrão com propósito.
Casa Santa Marta: hotel-residência dentro do Vaticano



Localizada ao sul da Basílica de São Pedro, dentro dos muros do Vaticano, a Domus Sanctae Marthae foi construída em 1996 por ordem do Papa João Paulo II para hospedar cardeais durante o conclave. O projeto arquitetônico é assinado por Giuseppe Facchini, que idealizou um edifício contemporâneo, sóbrio e eficiente, com linhas retas e fachada clara que se destaca entre as construções renascentistas do Vaticano.
Com 106 suítes distribuídas em cinco andares, a casa conta com recepção 24 horas, refeitório no estilo buffet, capela privativa e corredores silenciosos que remetem mais a um mosteiro moderno do que a um hotel de luxo — embora a estrutura seja compatível com hospedagens de alto padrão.
Desde sua eleição, Francisco passou a viver no apartamento 201, no segundo andar. O espaço tem cerca de 70 m² e inclui um quarto, escritório, banheiro e uma pequena sala de estar, com mobiliário discreto. Ele tomava suas refeições no refeitório comum e recebia convidados sem cerimônia, em um ambiente mais próximo de um hotel executivo boutique do que de uma residência pontifícia.

A decisão de não se mudar para o Palácio Apostólico — onde viveram todos os papas desde o século XVII — foi recebida com surpresa à época, mas logo compreendida como reflexo de um papado mais próximo, pastoral e menos hierárquico. Francisco queria estar “onde os outros estão”.
Hoje, com sua morte no apartamento 201, a Casa Santa Marta não é apenas o lugar onde ele morou — é também o símbolo físico do seu legado.
Marge Hotel: o quarto 108 que virou ponto turístico em Aparecida
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Antes de ser Papa, Jorge Bergoglio esteve no Brasil em 2007 como cardeal de Buenos Aires, durante a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. O evento aconteceu em Aparecida (SP), e o local escolhido por Bergoglio para se hospedar foi o Marge Hotel, localizado na rua Monte Carmelo, a poucos minutos do Santuário Nacional.
O hotel, fundado em 1995, oferece cerca de 50 quartos e tem um perfil de hospedagem voltado para fiéis, religiosos e peregrinos que visitam o Santuário. O estilo é clássico, com áreas comuns revestidas em madeira, capela própria e quartos funcionais, com varandas e vista para o Vale do Paraíba.
Francisco ocupou o quarto 108, que se mantém preservado desde então. Após sua eleição como Papa, o hotel passou a receber um fluxo contínuo de visitantes que desejam se hospedar ou ao menos conhecer o espaço onde ele dormiu, orou e escreveu documentos de trabalho durante sua estadia de 21 dias. Hoje, o 108 é o quarto mais requisitado da casa e pode ser visitado mediante agendamento.
A direção do Marge Hotel chegou a instalar uma placa comemorativa na porta e oferece aos hóspedes uma pequena galeria com fotos do cardeal na época, criando uma experiência que une devoção, história e turismo de forma orgânica.
No Rio, cercado pela floresta da Tijuca

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A última hospedagem de Francisco no Brasil aconteceu em 2013, já como Papa, durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Na ocasião, ele se recusou a ficar em hotéis cinco estrelas oferecidos pelo comitê organizador e escolheu a residência oficial da Arquidiocese do Rio, localizada no Alto da Boa Vista, dentro do Parque Nacional da Tijuca: o Palácio Apostólico do Sumaré, que também é conhecido como Casa do Sumaré ou Residência Assunção.
A casa, uma construção discreta em estilo colonial-moderno, é rodeada por mata atlântica e oferece privacidade, silêncio e vista panorâmica da cidade. Mais do que segurança, Francisco buscava recolhimento. A estrutura inclui capela, biblioteca, quartos simples e áreas comuns acolhedoras — características ideais para retiros espirituais e hospedagens de longa duração.
Embora não seja um hotel no sentido comercial, a residência é preparada para receber bispos, cardeais e, agora, é lembrada como o “refúgio carioca” do Papa.
A morte de Francisco acende uma nova luz sobre os lugares por onde passou. A Casa Santa Marta, até então um bastidor da vida papal, deve atrair mais visitantes e estudiosos. O quarto 108 em Aparecida já é destino de turismo religioso consolidado. E a residência no Sumaré, no Rio, ganha novo valor histórico.
Esses espaços mostram que, para além do luxo, a verdadeira hospitalidade está em oferecer acolhimento com propósito. Francisco encontrou conforto na simplicidade, e seus endereços de descanso agora se transformam em pontos de conexão entre fé, história e turismo